A Era Contemporânea
A
abertura do século foi m arcada pela tomada do poder na Rússia
pelos Bolcheviques e, em poucas décadas, aquele antigo estado
“semi-feudal” se transformaria em um dos principais impérios do
século XX, submetendo milhões de cidadãos, das mais variadas
nacionalidades, etnias e religião aos seus ditames. Para
compreendermos de que modo o mundo foi redesenhado por diversas
vezes, a alteração do mapa geopolítico e como as forças
emergentes derrotaram antigos impérios outrora sólidos, precisamos
aprender um pouco a respeito dos grandes acontecimentos que marcaram
esse século.
Primeira
Guerra Mundial (1914-1918)
O
que nos causa a sensação de angústia, indignação e pavor, é
percebermos o grau de brutalidade alcançado pelos seres humanos em
estado de guerra. Homens assassinam homens, mulheres e crianças de
modo tão banal e frio que nos fazem acreditar que a guerra é a
expressão máxima de um processo de desumanização do próprio ser
humano.
Infelizmente,
no curso do século XX, o aperfeiçoamento da tecnologia ampliou
demasiadamente a capacidade de extermínio do inimigo e a escalada
das mortes por bombardeios, uso de armas químicas, biológicas,
nucleares e outros tantos tipos de artefatos mortais causaram a
eliminação, muitas vezes de cidades e/ou regiões inteiras.
Comecemos por entender um pouco as motivações que levaram as nações
europeias a se envolverem no conflito denominado de Primeira
Guerra Mundial.
O
Início de Tudo: A Política de Aliança.
Em
1870, a França havia sido derrotada pela recém criada Alemanha, na
batalha de Sedam, e as ricas províncias da Alsácia-Lorena
ficaram em posse dos germanos. A partir desse episódio, ocorrido no
século XIX, foi despertado um espírito de nacionalismo exacerbado,
de revanche, o que provocaria mais tarde outra guerra, agora de
grandes proporções na Europa. Ao mesmo tempo, crescia a rivalidade
inglesa com relação à Alemanha. Essa rivalidade tinha suas raízes
principalmente em relação ao crescimento industrial alemão, o qual
ameaçava a tradicional supremacia capitalista inglesa, além das
pressões feitas pelos germanos exigindo a redefinição da partilha
colonial para que eles fossem incluídos como beneficiários.
Como
as tensões foram se ampliando e as desconfianças mútuas cresciam
entre as nações, no início do século XX, grande parte dos
orçamentos dos países europeus já era destinado à produção de
artefatos de guerra, o que transformou aquele continente num grande
campo militar, espécie de barril de pólvora, tornando esse período
conhecido como Paz
Armada.
A Alemanha, desde a sua unificação, estabeleceu a sua política
externa voltada para o isolamento da França, criando um sistema
internacional de alianças político-militar que impedisse o
revanchismo e a reação francesa.
Embora
a deflagração da guerra tenha ocorrido em 1914, todo o cenário
começou a ser montado bem antes da sua eclosão. Ainda em 1873, foi
instaurada a Liga dos Três Imperadores, da qual faziam parte a
Alemanha, a Áustria-Hungria e a Rússia. Entretanto, as divergências
entre a Rússia e a Áustria com relação à região dos Bálcãs,
ocasionadas pelo fato da Rússia apoiar as minorias eslavas da
região, desejosas de independência, acabou com essa aliança em
1878. Em 1882, o Segundo Reich, por sua vez, firmou a Tríplice
Aliança, unindo-se ao império Austro-Húngaro e à Itália, sendo
que este último país encontrava-se em atrito com a França devido à
anexação da Tunísia, uma colônia africana.
Na
última década do século XIX, a França conseguira sair do
isolamento internacional fixando um pacto militar com a Rússia
Kzarista em 1894. Já no início do século XX, a Inglaterra
aproximou-se da França formando, em 1904, a Entente Cordiale, a qual
unia os interesses comuns das duas nações no plano internacional. A
partir de então as antigas rivalidades franco-inglesas foram
esquecidas para que os dois países lutassem contra um inimigo em
comum: o sucesso econômico da Alemanha, sua expansão colonial e seu
exaltado nacionalismo.
Por
sua vez, em 1907, a Rússia aliou-se à França e à Inglaterra,
formando a Tríplice Entente. Nesse período passaram a existir na
Europa dois grandes blocos opostos: a Tríplice Aliança e a Tríplice
Entente, esses dois blocos fomentaram a tensão que levou os países
europeus aos preparativos armamentistas.
Em
meio a esses dois blocos, a Itália, país tardiamente formado,
ocupava uma posição singular, pois era membro da Tríplice Aliança
embora cultivasse sérios conflitos com o Império Austro-Húngaro na
disputa de regiões da parte sul do Tirol e da Ístria. Em função
disso, a Itália assumiu um comportamento dúbio na política
internacional, assinando acordos secretos de não agressão com a
Rússia e com a França, países do bloco rival, a Tríplice Entente.
A
Questão Marroquina (1904)
Fazendo
parte do processo de disputa colonial, a Questão Marroquina resultou
num acordo entre França e Inglaterra que excluiu a Alemanha e
sepultou a Convenção de Madri, datada de 1880. Tal Convenção
havia estabelecido direitos de exploração da região do Marrocos
aos alemães. Porém, o acordo franco-britânico de 1904, fora um
declarado apoio Francês aos interesses ingleses no Egito e, em
contrapartida, recebera o respaldo britânico para a sua dominação
no Marrocos. Em outros termos, um golpe de misericórdia nos alemães
que precisavam desesperadamente de colônias para a exploração de
matérias-primas visando o desenvolvimento da sua nascente indústria.
Em
1906, na Conferência de Algeciras, foram reconhecidos os interesses
franceses e garantiram também aos alemães, parte do Marrocos. Novas
crises, porém, ocorreram no Marrocos: em 1908, em Casablanca, e em
1911, em Agadir. Essas inquietações só vieram a ser,
aparentemente, solucionadas pela transferência do Congo Francês à
Alemanha, que, em troca, renunciaria suas pretensões sobre o
Marrocos.
Mesmo
assim permaneceu o descontentamento de ambos os lados, pois os
alemães consideraram pequena a compensação recebida e os franceses
sentiram-se inconformados por cederem uma importante área colonial.
A
Questão Balcânica
A
disputa pelos Bálcãs (região entre os mares Negros e Adriático)
iniciou-se no final do século XIX com o desmembramento do Império
Turco-Otomano que estava em rápida dissolução. A intervenção
imperialista internacional na região e as lutas nacionalistas dos
diversos povos que faziam parte do Império originaram diversas
crises locais e internacionais.
A
Rússia defendia o pan-eslavismo, pretendendo unificar os eslavos
balcânicos, libertando-os do Império Turco. Com essa política, a
Rússia tinha a intenção de dominar a região do mar Negro ao mar
Egeu, passando pelos Bálcãs, apresentando-se como a incentivadora
da independência das minorias nacionais.
No
entanto, os russos encontraram forte resistência do Império
Austro-Húngaro - protetor do Império Turco -, e da Alemanha, que
tinha um projeto de construir a estrada de ferro Berlim-Bagdá,
barrando a descida da Rússia para o sul, pelos estreitos de Bósforo
e Dardanelos, pertencentes ao Império Turco. A construção da
estrada de ferro permitiria à Alemanha o acesso às áreas
petrolíferas do Golfo Pérsico, ameaçando a hegemonia da Inglaterra
nessa região.
Quando
afloraram os sentimentos étnicos e a crescente tensão entre as
potências imperialistas na região, a Sérvia liderou o movimento
pan-eslavista balcânico, buscando a independência do domínio turco
e idealizando a construção da Grande Sérvia. No entanto, quando em
1908 a Áustria anexou às regiões eslavas da Bósnia e Herzegovina,
tomadas do Império Turco, o ideal de unificação eslava tornou-se
mais distante, pois seria necessário lutar tanto contra o Império
Turco, como contra o Império Austro-Húngaro. Nos anos seguintes, a
inquieta Sérvia promoveria diversas agitações de cunho
nacionalista. Começava, nesse momento, um jogo num tabuleiro de
xadrez altamente explosivo, onde as peças se moviam com muita
astúcia.
O
atentado de Sarajevo
Em
1912, uma união de países balcânicos organizou a luta contra o
arruinado Império Turco. Sérvia, Bulgária, Montenegro e Grécia,
países independentes, acabaram se desentendendo quanto à questão
da divisão dos territórios. Em 1913, a Bulgária apoiada pela
Áustria, atacou a Sérvia, mas foi derrotada pela coligação desta
com Montenegro, Romênia e Grécia. Enquanto isso, os povos da Bósnia
e Herzegovina aproveitavam-se da situação e rebelavam-se, buscando
a independência, com incentivo da Sérvia. Faltava apenas um
pretexto para a deflagração do conflito generalizado. E ele não
demorou a aparecer.
Em
1914, o herdeiro do trono Austro-Húngaro, o arquiduque Francisco
Ferdinando, buscando acalmar os ânimos da região, viajou a
Sarajevo, capital da Bósnia, para anunciar a formação de uma
monarquia tríplice (Austro-Húngara-Eslava), elevando teoricamente a
Bósnia e a Herzegovina ao mesmo nível de importância da Áustria.
Pretendendo impedir o projeto austríaco, os sérvios planejaram
através da organização secreta Mão Negra, um atentado. Em 28 de
junho de 1914, o estudante sérvio Gravilo Princip matou a tiros
Francisco Ferdinando e sua esposa. Em represália, o Império
Austro-Húngaro deu um ultimato á Sérvia, exigindo a eliminação
de todas as organizações nacionalistas locais, frustrando uma
solução pacifica para o impasse criado com o assassinato.
Em
1° de agosto de 1914, a Áustria declarou guerra à Sérvia.
Imediatamente, a Rússia posicionou-se favorável a Sérvia. A partir
de então, o sistema de alianças foi ativado, resultando na entrada
da Alemanha, França e Inglaterra no conflito, que rapidamente se
generalizou. Exatamente um mês depois, os grandes exércitos
marchavam para a guerra.
O
Início do Conflito
A
Primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências do
mundo, impondo o recrutamento obrigatório em cada nação, não só
para o exército como também para a produção, resultando numa
completa mobilização econômica e militar. Objetivando vencer a
Guerra, cada estado assumiu a administração de sua própria
economia e todos os cidadãos tornaram-se soldados. A 1ª Guerra
demonstrou que o mundo possuía uma capacidade bélica até então
inimaginável. Duas poderosas e engenhosas armas mortíferas foram
intensamente utilizadas no decorrer do conflito: os famosos tanques e
os submarinos.
A
Primeira Guerra Mundial apresentou duas grandes fases: em 1914 houve
a guerra de movimento e, de 1915 em diante, a guerra de trincheiras.
A primeira fase estava relacionada ao Plano Schlieffen, estratégia
alemã elaborada em 1905 que previa a guerra em duas frentes,
concentrando todo esforço bélico, primeiramente no Ocidente e
depois no Oriente, sem dividir-se. Começaria com uma rápida
ofensiva esmagadora contra a França, derrotando-a. Em seguida, o
grosso das operações militares seria realizado na frente oriental,
contra a Rússia, acreditando-se numa vitória em poucos meses.
Na
ofensiva ocidental, os alemães invadiram a França, atravessando o
território belga, o que violou a sua neutralidade. Esse foi o
pretexto para a Inglaterra declarar guerra à Alemanha. Mesmo assim,
os exércitos alemães marcharam em direção a Paris, surpreendendo
as tropas francesas. Mas, uma ofensiva russa, na frente ocidental,
obrigou o general alemão Moltke a uma divisão de forças.
Esse fato salvou a França do cruel ataque alemão na Batalha de Marne. Com o fracasso do plano Schlieffen, terminava a guerra de movimento e iniciando a guerra de posição ou de trincheiras.
Esse fato salvou a França do cruel ataque alemão na Batalha de Marne. Com o fracasso do plano Schlieffen, terminava a guerra de movimento e iniciando a guerra de posição ou de trincheiras.
Ao
mesmo tempo, outras nações ingressavam no conflito.
Ao
lado da Entente: Japão (1914), Itália (1915), Romênia (1916) e
Grécia (1917). Ao lado dos impérios centrais (Alemanha e
Áutria-Hungria) colocaram-se a Turquia (1914) e a Bulgária (1915).
CURIOSIDADE:
Você
sabia que o Canário da Alemanha teve grande utilidade na guerra de
Trincheira? Pois é, durante a Primeira Guerra Mundial, uma das
formas mais letais de eliminar o inimigo entrincheirado era canalizar
o gás, por meio da tubulação por baixo da terra, para envenená-los
no outro lado do front. Pensando em evitar a morte dos seus soldados,
os oficiais alemães começaram a colocar canários da Alemanha
engaiolados nas trincheiras com o objetivo de detectar a introdução
do gás no ambiente. Como os pássaros são mais sensíveis e morrem
primeiro que o homem após inalar o gás, ao ficarem de pernas para o
ar era o sinal de que o inimigo estava injetando o elemento químico
venenoso e dava tempo para que os soldados saíssem das trincheiras
rapidamente.
Enquanto
na frente ocidental entrava na fase das trincheiras, com cada país
defendendo palmo a palmo seu território conquistado, na frente
oriental ocorria uma sequência de grandes vitórias alemãs.
A
Rússia, país dos mais atrasados, mal equipado e com o moral das
suas forças em baixa, sofreu várias derrotas, o que acelerou a
queda da autocracia czarista, culminado na Revolução de 1917, a
qual implantaria um governo dito “socialista”. Com o novo governo
foi realizado um acordo de paz em separado, o Tratado de
Brest-Ltovski, de 1918, oficializando a saída da Rússia do conflito
armado.
Em
1917, a Itália sofreu uma grande derrota frente aos austríacos,
sendo neutralizada. Com dois inimigos fora da guerra as potências
centrais passaram a se preocupar com a frente ocidental
franco-inglesa e a Alemanha intensificou o bloqueio marítimo à
Inglaterra, objetivando deter seus movimentos e o abastecimento que
chegava do continente.
Os
Estados Unidos, até então estavam neutros no conflito, embora
ligados a Entente seu papel inicial era abastecer os países europeus
com alimentos e armas, mas se sentiam ameaçados pela agressiva
marinha alemã. O afundamento de duas embarcações norte-americanas
serviu de pretexto para os Estados Unidos declararem guerra às
potências centrais. A entrada dos Estados Unidos na guerra, em 1917,
com seu imenso potencial industrial e humano reforçou o bloco dos
aliados. A farta oferta de novas armas: tanques, navios e aviões de
guerra dinamizaram os conflitos, e levou a sucessivas derrotas
alemãs.
Com
a superioridade econômico-militar dos aliados, as potências
centrais foram sendo derrotadas. Na Alemanha foi instituído um novo
governo social-democrata, governo esse que assinou em 1918, o
Armistício de Compiegne, finalizando a Primeira Guerra Mundial.
Os
tratados de paz
Em
janeiro de 1919, os vitoriosos reuniram-se no Palácio de Versalhes,
na França, para as decisões do pós-guerra. A Paz de Versalhes foi
presidida pelo presidente Thomas Wilson, dos Estados Unidos, Lloyd
George, da Inglaterra, e Clemeceau, da França. Dentre outras coisas,
o Tratado de Versalhes considerou a Alemanha culpada pela guerra,
criando uma série de determinações que visavam enfraquecer e
desmilitarizar a nação de Bismarck. Entre outras determinações
ficou estabelecida a devolução da Alsácia-Lorena à França e o
acesso da Polônia ao mar por uma faixa de terra dentro da Alemanha
que desembocava no porto livre de Dantzing. A Alemanha perdia todas
as suas colônias; a artilharia e a aviação e passava a ter um
exército limitado a cem mil homens, além da proibição de
construir navios de guerra. A Alemanha também foi obrigada a
indenizar as potências aliadas pelos danos causados a elas.
Calcula-se que o valor total da indenização foi de aproximadamente
trinta bilhões de dólares; valor que foi sendo negociado nos 20
anos seguintes, até ser extinto em 1932, na Conferência
Internacional de Lausane.
O
Tratado de Versalhes também oficializou a Liga
das Nações,
no início sem a participação da Alemanha e da Rússia, cuja função
seria a de um fórum internacional que garantisse a paz mundial. A
Liga nasceu praticamente falida, uma vez que o próprio país que a
idealizou e se transformara na maior potência mundial, os Estados
Unidos, dela não participou por discordar de muitas decisões do
Tratado de Versalhes, preferindo assinar com a Alemanha um acordo de
paz em separado.
No
mesmo ano, os aliados assinaram com a Áustria o Tratado de
Saint-Germ. Esse tratado desmembrou o império Austro-Húngaro,
retirando a saída para o mar da Áustria e forçando-a a reconhecer
a independência da Polônia, da Tchecoslováquia, da Hungria e da
Iugoslávia. Com a Hungria foi assinado o Tratado de Trianon, com a
Bulgária o Tratado de Neuilly e com a Turquia o Tratado de Sévres,
este ultimo foi reforçado por outro tratado em 1923, o Tratado de
Lausanne, formulado devido à reação turca às imposições de
Sévres.
Principais
consequências da Guerra:
⇒ A redefinição do mapa geopolítico da Europa.
⇒ A neurose e a angústia coletivas provocadas nas populações dos países envolvidos.
⇒ Queda demográfica na Europa.
⇒ Ascensão dos Estados Unidos como grande potência mundial no Pós-Guerra.
⇒ Crise dos antigos impérios coloniais, uma vez que a Europa foi o palco onde se desenrolou o conflito e teve grande parte dos seus parques industriais destruídos.
⇒ Corrida armamentista desenfreada e crise do capitalismo.
⇒ Ascensão de regimes de caráter totalitários.
⇒ A redefinição do mapa geopolítico da Europa.
⇒ A neurose e a angústia coletivas provocadas nas populações dos países envolvidos.
⇒ Queda demográfica na Europa.
⇒ Ascensão dos Estados Unidos como grande potência mundial no Pós-Guerra.
⇒ Crise dos antigos impérios coloniais, uma vez que a Europa foi o palco onde se desenrolou o conflito e teve grande parte dos seus parques industriais destruídos.
⇒ Corrida armamentista desenfreada e crise do capitalismo.
⇒ Ascensão de regimes de caráter totalitários.
Os
tratados de paz impostos aos derrotados, especialmente o de
Versalhes, semearam o espírito de revanche e descontentamento que
iria desembocar, vinte anos mais tarde na Segunda Guerra Mundial.
A
CRISE DE 1929 E O PERÍODO ENTRE GUERRAS
Terminada
a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se transformaram na
maior economia mundial, passando a produzir mais de um terço de todo
artefato industrial do mundo e, em 1929, passaram a mais de 42% de
toda produção mundial. A prosperidade econômica, o boom econômico,
apresentava contradições que aguçavam crescentemente, levando a
uma profunda crise, que se espalhou para o restante do mundo. A crise
de 1929 foi diferente de todas as crises ocorridas anteriormente,
pelas profundas transformações que provocou e pelas proporções
mundiais que assumiu: falências, desemprego, fome e a miséria de
milhões de pessoas, reformulações políticas e econômicas que
mudaram a face do mundo.
Antecedentes
da crise:
Após
o governo do democrata Thomas Wilson, os presidentes norte-americanos
seguintes, até 1932, Warren Harding, Calvin Coolidge e Herbert
Hoover, foram todos republicanos, fiéis defensores do isolacionismo
e do liberalismo econômico.
O
predomínio dos republicanos amparava-se na Doutrina Monroe: “A
América para os americanos” e, consequentemente desdobrava-se em
“A Europa para os europeus”. Buscando abdicar de um engajamento
total nos assuntos internacionais, os Estados Unidos não validaram o
Tratado de Versalhes e decidiram não participar da Liga das Nações.
Obedecendo ao binômio dos republicanos: isolacionismo e liberalismo,
os presidentes norte-americanos de 1920 a 1932 assistiram a uma
evolução econômica em direção ao caos. Para eles, os problemas
econômicos seriam superados naturalmente, pois o mercado possuiria
uma tendência por si mesmo para a racionalidade, não cabendo ao
Estado intrometer-se na ordem econômica.
A
desigualdade na distribuição da renda acentuou-se, pois, para a
maioria da população, o salário continuou estável,
impossibilitando um aumento de consumo que era incompatível com o
crescimento da produção. Apenas uma elite da população que
correspondia a 5% detinha a um terço da renda pessoal dos Estados
Unidos. Assim, a produção do país não conseguia ser consumida
internamente, o que gerou numa grande estocagem de mercadorias.
Ao
mesmo tempo, a intensa atividade econômica deu impulso à
especulação financeira, através da compra e venda de ações de
grandes empresas na Bolsa de Valores de Nova York. Em meados de 1929,
quadruplicou o valor das ações e diversos investidores foram
atraídos cada vez mais pela Bolsa, pela especulação, numa espiral
crescente.
O
aumento do número de investidores e do volume de investimentos em
títulos na bolsa possuía um limite físico. O mercado interno
limitado, o externo arrasado pela Primeira Guerra, os países
europeus buscavam recuperar-se autonomamente, acompanhada de um
subconsumo, levou a especulação financeira a atingir seu limite
suportável. A crise eclodiu em 24 de outubro de 1929 (Quarta-feira
Negra), quando uma grande venda de ações não encontrou
compradores. Os investidores, assustados, tentaram livra-se dos
papéis “podres”, dando origem a uma grande oferta de ações, o
que gerou a redução do preço das mesmas, arruinado a todos aqueles
que possuíam investimentos na bolsa. Esse fenômeno ficou conhecido
como efeito dominó, pois as ações foram caindo uma a uma como se
uma imensa serpentina de dominó fosse desabando pedra por pedra após
um sutil toque na primeira da fila. A crise de 1929 abalou todo o
mundo, exceto a União Soviética, que se encontrava fechada em si
mesma e onde estavam sendo aplicados os planos quinquenais elaborados
pelo governo de Stalin. A difusão da crise contou com dois elementos
básicos: redução das importações norte-americanas, que afetou
duramente os países que dependiam de seu mercado (o café brasileiro
é um exemplo), e o repatriamento de capitais norte-americanos
investidos em outros países. Por dependerem do capital ou das
importações norte-americanas, a maioria dos países passou a viver
agitações políticas e o caos social. Além disso, a concretização
da Revolução Russa trazia receio aos governos europeus do
alastramento do regime “socialista” por toda a Europa. Assim,
cada país buscou soluções peculiares, quase sempre com respaldo de
governos de direita de caráter Nazifascista.
O
New Deal
Devido
á crise econômica, em 1932, os republicanos foram vencidos nas
eleições nacionais pelos democratas. Franklin Roosevelt foi então
eleito presidente dos Estados Unidos, e uma das suas primeiras
providências foram acabar com o liberalismo econômico, intervindo
na economia, através do New Deal, plano elaborado por um grupo de
renomados economistas: o Brain Trust, que se baseava nas teorias de
John Maynard Keynes.
“Para
Keynes, as raízes da Depressão encontravam-se em uma demanda
privada inadequada. Para criar a demanda, as pessoas deviam obter
meios para gastar. Uma conclusão daí decorrente é que os salários
de desemprego não deveriam ser considerados simplesmente como débito
do orçamento, mas um meio por intermédio do qual a demanda poderia
aumentar e estimulara oferta. Além do mais, uma demanda reduzida
significava que não haveria investimento suficiente para produzir a
quantidade de mercadorias necessárias para assegurar o pleno
emprego. Os governos deveriam, por tanto, encorajar mais
investimentos, abaixando as taxas de juros (uma política de dinheiro
barato), bem como criar um extenso programa de obras públicas, que
proporcionaria emprego e geraria uma demanda maior de produtos
industriais.”(BROGAN,
Hugh. ”O New Deal”. In: Século XX, p. 1607.)
Com
a New Deal, o liberalismo cedeu lugar ao neocapitalismo, que buscava
um planejamento econômico baseado na intervenção do estado na
economia. Rossevelt determinou grandes emissões monetárias,
inflacionando deliberadamente o sistema; fez investimentos estatais
importantes, como construções de hidrelétricas; estimulou uma
política de empregos, entre outras medidas que impulsionaram o
consumo e possibilitaram a progressiva recuperação econômica.
Enquanto
isso, na Europa, as repercussões da Primeira Guerra Mundial ainda
agitavam os menos afortunados e traziam resultados nefastos para a
maioria dos países daquele continente. A recuperação econômica
parecia distante e a instabilidade política possibilitava o
crescimento dos partidos de esquerda, principalmente os Partidos
Comunistas com forte influência dos ideais da Revolução de 1917 na
Rússia. Em países como Espanha, Alemanha, Itália, França,
Portugal e outros tantos, células dos PCs estavam se articulando e
se preparando para uma possível conquista do poder e uma adesão ao
bloco socialista liderado pela URSS.
Foram
justamente o temor do crescente movimento de esquerda na Europa, a
instabilidade econômica e a incerteza do futuro as razões que
levariam os setores de extrema direita a optar por apoiar grupos
minoritários e belicosos que tinham como principais inimigos
justamente os membros dos partidos comunistas. Por Toda a Europa a
ascensão de partidos de extrema direita, defendendo uma política de
limpeza étnica, de perseguição a militantes de esquerda, a
elevação do Estado à condição de entidade suprema e
incontestável, tornaram-se as principais bandeiras defendidas por
esses setores. O resultado disso foi a emergência de dois fenômenos
que marcariam para sempre a História da humanidade pelo seu caráter
extremamente cruel e perverso: o Nazismo e o Fascismo.
O
totalitarismo Nazifascista.
Durante
o final da Primeira Guerra Mundial e início da Segunda,
estruturou-se na Europa um movimento essencialmente nacionalista,
antidemocrático, anti-operário, antiliberal e anti-socialista. Esse
fenômeno político ficou conhecido como Nazifascismo.
O
nazismo teve origem na Alemanha, e foi fundamentado teoricamente no
livro Mein Kampf (Minha Luta), obra escrita pelo ex-cabo da Primeira
Guerra Mundial, Adolf Hitler, em 1923, quando estava encarcerado por
tentativa de golpe de estado. Essa obra transformou-se, dez anos mais
tarde, em seu programa de governo, em 1933, quando assumiu o comando
alemão. Na Itália, Benito Mussolini, que ocupou o governo italiano
a partir de 1922, estruturou o fascismo. Em outros países, formas
peculiares de totalitarismo também foram adotadas, como o franquismo
na Espanha e o salazarismo em Portugal.
Essas
novas formas de governo eram maneiras de fortalecer o Estado
intervencionista e representaram uma reação nacionalista às
frustrações causadas pela Primeira Guerra Mundial, além de atender
às aspirações de uma burguesia amedrontada, promovendo a
estabilidade social, política e econômica diante das ameaças
revolucionárias ensaiadas pelas esquerdas daqueles países.
A
doutrina nazifascista se destacava basicamente nos seguintes pontos:
⇒ Totalitarismo
– assentava-se no princípio de que “nada deve existir acima do
Estado ou contra o Estado”. O Partido Fascista ou Nazista
representava o Estado e confundia-se com ele, formando a síntese das
aspirações nacionais.
⇒ Nacionalismo
– defesa incondicional de que tudo deveria ser feito em nome da
nação, pois esta representava a entidade mais alta, mais
aperfeiçoada da sociedade.
⇒ Idealismo
– acreditava-se que pelo instinto e anseios se poderia transformar
qualquer coisa que desejasse.
⇒ Romantismo
– negava-se que a razão pudesse solucionar os problemas nacionais,
defendendo-se, ao contrário, que somente a fé, o auto-sacrifício,
o heroísmo e a força o conseguiriam. Daí a natureza dos mitos que
surgiram como “salvadores da pátria”, vistos como “verdadeiras
entidades superiores”.
⇒ Autoritarismo
– via-se a autoridade do líder, do chefe – o Duce e/ou o Führer
-, como figuras incontestáveis; por isso todos deveriam segui-los
cegamente. As nações precisavam de trabalho e prosperidade e não
de liberdade, de democracia ou de reivindicações, segundo aquelas
doutrinas.
⇒ Militarismo
– acreditava-se que “a guerra regenera”, a “luta é tudo”,
“a expansão salva”.
⇒ Anticomunismo
– ambos os regimes culpavam os comunistas pelo caos reinante e pelo
colapso nacional. Por isso era necessário eliminá-los.
No
caso alemão havia ainda o anti-semitismo. A perseguição racista
aos judeus se justificava pela afirmação de que na Primeira Guerra
Mundial os alemães haviam sido traídos pelos judeus marxistas,
motivo de sua derrota. Além disso, segundo a retórica nazista, os
judeus ameaçavam a edificação da grande raça ariana (alemã).
Para Hitler, o judeu além de ameaçar a depuração do alemão
ariano, era visto como antinacional (por sua história), imoral e
marxista. Assim, a ideia fundamental do nazismo era expressa na
frase: Ein VolK, ein Reich, ein Führer (um povo, uma nação, um
chefe). A repetição maciça dessa mentira deu a ela forma de
verdade. Para tanto, um dos principais instrumentos para a difusão
desse ideal foi a propaganda cinematográfica e jornalística.
Um
indivíduo conhecido como o mestre da propaganda Nazista daria
formato e estética a esses dois veículos de comunicação para
convencer a maior parte da população do “perigo” que os judeus
ofereciam. Quem foi ele? Josef Goebbels.
O
Cérebro do Reich
Arquiteto
da imagem messiânica de Hitler, Josef Goebbels direciona seu talento
para apolítica expansionista e anti-semita do Führer- Mestre da
propaganda arrebanha o apoio da população para nova batalha na
Europa
Goebbels
foi um verdadeiro mestre em seu ofício. Foi ele o responsável pela
frente de propaganda das sucessivas campanhas eleitorais que acabaram
por conduzir Hitler ao cargo de chanceler. Foi ele quem cunhou e
tornou compulsória a saudação Heil Hitler - “Ave Hitler”, ou
“Vida longa a Hitler” - entre os integrantes do partido nazista.
E é ele que, com controle total sobre rádio, televisão, imprensa,
cinema e teatro, consegue conquistar o apoio maciço da população
às decisões de Hitler - quaisquer que fossem elas.
Ratos
e baratas -
De forma peculiar e engenhosa, Josef Goebbels conseguiu transformar o
trauma da derrota na Grande Guerra em um aditivo para a política
expansionista nazista. “Chegou a hora de nosso país exigir seu
direito histórico na Europa. O elevado destino da raça superior se
aproxima. O povo tem de desejar sacrificar-se pela glória do Reich.
Qualquer conforto deve ceder lugar à necessidade de armas”,
afirmou ele. Alinhado com a política anti-semita de Hitler, também
propalava os efeitos nocivos da presença dos judeus na Alemanha - em
alguns casos, conclamava a população a agir contra estes. Não
custa lembrar que foi ele o mentor intelectual da Kristallnacht, a
infame “Noite dos Cristais”, em novembro do ano 1939, quando a
população, para retaliar o atentado cometido por um jovem judeu a
um diplomata alemão, foi convocada a destruir sinagogas, lojas e
casas da comunidade judaica. O resultado: 90 judeus assassinados e
mais de 20.000 presos e enviados para campos de concentração.
“Bravo, bravo”, celebrou o ministro - que em suas propagandas
refere-se aos judeus como “ratos” ou “baratas” -, ao tomar
conhecimento do desfecho do levante. Brilhante escritor, orador
hipnótico, Goebbels, nascido em berço católico na cidade de
Rheydt, em 1897, incluiu o Führer como um vértice extra em sua
Santíssima Trindade. Sua fidelidade a Hitler é canina. Passagens
dos diários de Goebbels revelam uma admiração transcendental pelo
líder: “Ele é um gênio. O instrumento natural e criativo de um
destino determinado por Deus. Ele é como uma criança: gentil,
bondosa, piedosa. Como um gato: astuto, esperto, ágil. Como um leão:
gigante e imponente”. Mas que ninguém se engane com essas
comparações pueris: Goebbels é, mais do que ninguém, uma fera a
serviço do Reich. Na Polônia, suas transmissões de rádio e
técnicas de guerra subversiva - incluindo ameaças de uma quinta
coluna pronta a atacar em território invadido - ajudaram a minar as
resistências do inimigo.
O
Regime Italiano:
O
corporativismo constituía a peculiaridade do regime totalitário
italiano. O povo, produtor de riquezas, organizava-se em corporações
sindicais que governavam o país através do Partido Fascista, que
era a encarnação do próprio Estado. Diferentemente da esquerda, o
Fascismo negava a existência de classes em oposição na estrutura
social (lutas de classes) e o Estado corporativo deveria buscar a
harmonização dos interesses conflitantes entre o capital e o
trabalho dentro dos quadros das corporações.
Histórico
do Fascismo italiano
Em
1919, em Milão, Mussolini fundou o Partido Fascista italiano e
formou a milícia armada conhecida como Camisas Negras (os Squadres).
Os fascistas atacavam seus adversários, especialmente os comunistas,
quando estes realizavam comícios. Com isso, os fascistas ganharam
rapidamente o apoio da elite e de uma classe média atordoada,
expandindo seu prestígio por todo país. Entre as razões, que
propiciaram a ascensão fascista na Itália, destaca-se a então
crise política e econômica, bem como os efeitos desmoralizantes
sofridos pelo país com a Primeira Guerra: perdas financeiras
enormes, mais de setecentos mil mortos e quase nenhum ganho
territorial.
O
caos econômico causado pela inflação, pelo alto índice de
desemprego e pela paralisação de diversos setores produtivos levou
a agitações políticas revolucionárias das esquerdas, sucedendo-se
greves e invasões de fábricas e de terras. O governo parlamentar,
composto pelo Partido Socialista e pelo Partido Popular, não chegava
a um acordo nas grandes questões políticas, gerando impasses e
impopularidade. Nesse quadro de instabilidade, as elites passaram a
respaldar a ação dos squadres e os fascistas elegeram o maior
número de representantes no Parlamento, em 1921. Era o início da
ascensão do grande monstro que aterrorizaria a Itália e a
levaria à Guerra.
Em
1922, cinquenta mil squadres, oriundos de todas as partes da Itália,
marcham para Roma exigindo o poder. O rei Vítor Emanuel III cedeu à
pressão e Mussolini passou a organizar o gabinete governamental, no
cargo de Primeiro Ministro.
Em
1924, por meio de eleições fraudulentas, os fascistas ganharam
maioria parlamentar. A oposição, liderada pelo deputado socialista
Matteotti, denunciou as irregularidades eleitorais, mas foi sufocada
pelo terror e pela repressão, que culminaram no rapto e assassinato
de Matteotti pelos Camisas Negras.
Em
1925, Mussolini tornou-se Duce, o condutor supremo da Itália, e com
respaldo da Confederação Geral da Indústria, da Ovra (polícia
política fascista) e do Tribunal Especial, concretizou o Estado
totalitário fascista, eliminando os principais focos oposicionistas.
Suprimiu a imprensa oposicionista e cassou licenças de todos os
advogados antifascistas.
Em
1929, Mussolini ganhou apoio do clero ao assinar o Tratado de Latrão,
que solucionava a antiga Questão Romana. Indicando a conciliação
entre Igreja e Estado, o papa Pio XI reconhecia o Estado Italiano e
Mussolini, a soberania do Vaticano, composto pelo Palácio do
Vaticano, a Igreja de São Pedro e o Palácio de verão de Castel
Gandolfo. O catolicismo foi transformado em religião oficial. Desse
modo, a Itália, sob o controle do Duce, se armava e se preparava
para a Guerra contra aqueles considerados inimigos da nação.
O
nazismo alemão
As
razões que contribuíram para o sucesso nazista na Alemanha são
semelhantes às do fascismo na Itália, agravadas pela derrota da
Alemanha na Primeira Guerra e pela humilhação decorrente do Tratado
de Versalhes. Com o final da guerra, o regime dos Kaisers alemães
foi substituído pela República de Weimar (1918-1933), que já
surgiu marcada pela derrota, pela humilhação e pela crise
socioeconômica. Além das dificuldades impostas pelo Tratado de
Versalhes, a Alemanha teve que pagar uma enorme indenização à
França e a seus aliados. Essas condições levaram o país Germânico
a uma situação de grande dificuldade econômica e de incertezas
quanto ao seu futuro.
Em
1923, a República de Weimar decidiu suspender os pagamentos
indenizatórios, resultando na invasão francesa sobre o vale do
Ruhr, como represália. Os trabalhadores alemães desta região
entraram em greve, negando-se a trabalhar para os franceses, o que
obrigou o governo alemão a não abandoná-los. Além disso, o
governo alemão ampliou a emissão de moedas para custear a posição
dos trabalhadores daquela região. Ao mesmo tempo em que reacendia o
revanchismo crescia o espírito nacionalista alemão.
Antes
desse episódio, em 1919, na cidade de Munique, foi fundado o Partido
Totalitário, formação partidária moldada nos fundamentos do
Partido Fascista italiano. Logo depois, o partido adotou o nome de
Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, uma falsa
ilusão para atrair a simpatia dos operários, já que no fundo as
bases dessa agremiação eram completamente adversas aos ideais do
socialismo. Com forte apelo ao sentimento nacionalista e diante das
dificuldades do pós-guerra, o novo partido ganhou crescentes
adeptos. Para intimidar os opositores, os nazistas atuavam com uma
polícia paramilitar, denominada Seções de Assalto (SA) – os
“Camisas Pardas”.
Em
novembro de 1923, diante do agravamento da situação socioeconômica
e de ineficiência da República de Weimar, Hitler e seus seguidores
tentaram um golpe, visando assumir o poder. Todos foram presos, mas
ganharam ampla publicidade em todo o país. O Putsch de Munique, como
ficou conhecido o golpe, pareceu o fim do Partido Nazista. Foi, no
entanto, apenas um recuo momentâneo na escalada nazista propícia
para a sua ascensão definitiva.
Na
prisão, Hitler escreveu Mein Kampf, obra em que desenvolveu os
fundamentos do nazismo: a ideia, pseudocientífica, defendia a tese
da suposta existência da raça ariana, a qual seria descendente de
um grupo indo-europeu mais puro.
De
1923 a 1929, o nazismo não teve presença expressiva na disputa
eleitoral, até que a quebra da Bolsa de Nova York abalou o mundo e
consequentemente a combalida economia Alemã. Com a crise surgiram
seis milhões de desempregados, dando lugar para atuação dos grupos
políticos de esquerda, especialmente os comunistas, amedrontando a
elite e a classe média alemã. Essas classes sociais viram na
proposta nazista a salvação nacional a despeito dos projetos dos
comunistas.
A
partir daí as tropas da SA passaram a agir livremente e a
popularidade nazista se impôs. Em 1932, o presidente Hindenburg
ofereceu a Hitler a chancelaria, o comando do Estado. Elevado ao
poder, Hitler visou inicialmente eliminar a forte oposição,
especialmente a dos políticos de esquerda. Para tanto, organizou uma
farsa: provocou um incêndio que destruiu o prédio do Parlamento e
acusou os comunistas de planejarem um golpe já em andamento. Isso
lhe permitiu a instalação de uma ditadura totalitária sem
precedentes. Os deputados e lideres das esquerdas foram presos e
levados para os campos de concentração, prisões de extermínio de
opositores, de judeus e mais tarde de prisioneiros de guerra.
Hitler
organizou outras forças paramilitares, além das SA para dar-lhe
sustentação: as Seções de Segurança (SS), a polícia política
do partido mais bem treinada, completamente disciplinada e fiel a
Führer, e a Gestapo (polícia secreta do Estado). Hitler eliminou
sumariamente todos partidos políticos, os sindicatos, suprimiu o
direito de greve, os jornais opositores e eliminou membros do próprio
nazismo, na chamada Noite dos Longos Punhais, quando vários lideres
da SA, que divergiam sobre o poder absoluto de Hitler, foram mortos.
Cerca de setenta líderes e cinco mil outros nazistas foram mortos
por soldados do exército, pela SS e pela Gestapo, consolidando a
liderança de Hitler. Em 21 de março de 1933, Hitler proclamou a
criação do Terceiro Reich e, com a morte do presidente Hindenburg
em agosto de 1934, adotou oficialmente o título de Führer.
Os
nazistas usaram a propaganda como arma a seu favor, o que levou quase
toda a população a dar apoio aos grandiosos planos do Führer. A
campanha racista uniu a população alemã levando-a a se identificar
com a proposta nazista que propunha a purificação racial por meio
do extermínio dos judeus. A denominada “solução final”
multiplicou os campos de concentração, levando ao holocausto, com a
morte de milhões de judeus e comunistas. Toda a sociedade foi
envolvida no programa nazista: das crianças aos adultos, nas escolas
e instituições, todos eram induzidos a filiar-se à juventude
hitlerista ou ao Partido Nazista.
Enquanto
a juventude e as crianças aprendiam as lições nas escolas e nas
universidades os valores do “novo homem”, nos campos de
concentração milhares de pessoas eram mortas através das câmaras
de gás, dos fornos de alta temperatura, fuziladas ou por inanição.
Milhares de anônimos morreram nessas condições, mas também outros
famosos tiveram o mesmo destino. Podemos citar, como exemplo, o
historiador francês Marc Bloch que foi fuzilado por ter lutado na
resistência contra a invasão alemã à França e por ser filho de
judeu. Também é bastante conhecida de todos nós a história de
Olga, a mulher de Luiz Carlos Prestes, entregue como um presente à
Hitler pelo então presidente do Brasil Getúlio Vargas. Olga morreu
em Auschwitz e deixou importantes cartas sobre o horror de viver nos
campos de concentração.
A
nazificação alemã completou-se com o armamentismo e o total
militarismo, reativando a indústria bélica e o desenvolvimento
econômico. A militarização do Terceiro Reich visava á expansão
territorial, á conquista do espaço vital, que foi feita à custa de
seus vizinhos: Áustria, Tchecoslováquia e Polônia, forjando o
estopim da Segunda Guerra Mundial.
Segunda
Guerra Mundial (1939-1945)
Com
os nazifascistas no poder, na Itália e na Alemanha, a política
internacional foi pouco a pouco se configurando e tornando-se
conflituosa, pois as pequenas nações sentiram-se lesadas em seus
direitos territoriais e políticos, ficando vulneráveis aos ataques
dos Estados mais fortes do continente europeu.
No
Pacífico também as tensões começaram a aflorar. O Japão,
utilizando-se de um militarismo ultranacionalista e descontente com a
sua limitada posição internacional, invadiu a Manchúria em 1931.
Na Europa, em 1935, foi a vez de a Itália invadir a Etiópia e a
guerra, assim, caminhava também para o continente africano. Por sua
vez, a Alemanha, desobedecendo às decisões do Tratado de Versalhes,
reincorporou o Sarre, em 1935, restabelecendo o serviço militar
obrigatório e, em 1936, ocupou militarmente a Renânia (zona da
fronteira francesa desmilitarizada pelo Tratado de Versalhes). O
gatilho estava prestes a disparar, seria apenas questão de tempo.
Visando
evitar confrontos militares, muitas nações europeias assistiam a
esses episódios cautelosamente e ficaram temporariamente neutras.
Assim, a cada nova agressão expansionista dos Estados totalitários,
confirmava-se a falência da Liga das Nações e da paz internacional
administrada por ela.
Antes
mesmo da eclosão do conflito generalizado, A Guerra Civil Espanhola
(1936-1939) deu a Hitler e a Mussolini (associados ao militar
golpista espanhol Francisco Franco) as condições para testar seus
novos armamentos e acabar com a Nova República Socialista Espanhola.
Esse conflito teve como consequência a morte de mais de um milhão
de pessoas (em sua maioria, comunistas) e consolidou a aliança
Hitler-Mussolini, chamado de Eixo
Berlim-Roma.
É
importante ressaltar que esse acontecimento na Espanha ficou
conhecido como o Ensaio
Geral para a Segunda Guerra Mundial
e marcou a omissão da União Soviética em relação aos comunistas
que lutaram heroicamente contra as forças de franco sem nenhum apoio
dos soviéticos. A política de isolamento da URSS custaria caro
àquela nação, pois ela não ficaria imune das agressões e da ira
dos países do Eixo. O momento certo de atacá-la seria planejado
cuidadosamente por Hitler e seus generais.
O
Japão, pouco depois, se aliou aos alemães e aos italianos, já que
a expansão japonesa na Ásia entrou em conflito com a União
Soviética e outros países imperialistas ocidentais. Formou-se então
o Eixo
Roma-Berlim-Tóquio.
Os três países assinaram o Pacto Antikomintern, unidade para
combater a expansão do comunismo internacional. Tal pacto incluía,
dentre outras coisas, a eliminação sumária de comunistas em todo o
mundo.
A
primeira manifestação significativa da expansão nazista ocorreu na
Áustria, onde os alemães penetraram progressivamente, desde 1934,
até sua anexação ao Terceiro Reich. Sob o pretexto de união
germânica, o Führer efetivou o Anschluss (união alemã-autríaca).
A meta seguinte era a Tchecoslováquia, sob o pretexto de que a
região sul desse país (os Sudetos), contava com uma população
predominantemente alemã. Inglaterra, França, aliados na Primeira
Guerra e responsáveis pela criação da Tchecoslováquia, alegando
evitar um confronto, reuniram-se com Hitler e Mussolini. Na
Conferência de Munique, a França e a Inglaterra cederam o
território de Sudetos aos nazistas (ampliando o território alemão
para o leste), com o compromisso de os alemães não realizarem
qualquer expansão sem o consentimento franco-britânico.
No
entanto, para desencanto dos países adversários de outrora, Hitler
cobiçava conquistar o corredor polonês, a faixa de terra tirada da
Alemanha pelo Tratado de Versalhes, que incluía o porto de Dantzig,
área que dava a Polônia a saída para o mar Báltico.
Receosos
das intenções nazistas, Inglaterra e França resolveram dar apoio e
garantias ao governo polonês contra possíveis agressões
estrangeiras, obtendo, ao mesmo tempo, a promessa da Alemanha de
respeitar as fronteiras com a Polônia.
Tendo
obtido a passividade das potências europeias ocidentais e diante do
clima de desconfiança em relação á União Soviética, que se via
isolada dentro dos sistemas de alianças do continente, Hitler
aproximou-se de Stálin, estabelecendo, em 1939, o Pacto
Germano-Soviético de não agressão e neutralidade por dez anos.
Garantindo a neutralidade soviética na possibilidade de um conflito
internacional, o pacto representou o lance final nazista em sua
agressiva política expansionista. Por meio dele a Alemanha firmava o
compromisso de não-agressão aos soviéticos, permitindo a este a
anexação dos estados bálticos (Finlândia) e de parte da Polônia
Oriental, enquanto Hitler, em troca, poderia anexar Dantzig. O pacto
priorizou interesses expansionistas de ambos os lados, relegando a
segundo plano diferenças ideológicas, políticas e sociais entre o
nazismo e o “socialismo soviético”.
O
Início da Segunda Guerra Mundial
Em
1° de setembro de 1939, Hitler deu continuidade ao seu jogo
expansionista, invadindo a Polônia. Inglaterra e França, de acordo
com os compromissos públicos assumidos, não tendo alternativa,
reagiram, iniciando-se, dessa maneira, a Segunda Guerra Mundial.
A
eclosão da guerra
Durante
o ano de 1939, conhecido como ano da “guerra de mentira”, não
ocorreram grandes batalhas, pois os países ainda se preparavam para
a guerra. Em abril de 1940, Hitler iniciou uma guerra relâmpago, na
qual se constituiu em ataques maciços e rápidos com o uso de carros
blindados, aviões e de navios de guerra. A intenção era eliminar
os seus principais adversários rapidamente de modo a não permitir
qualquer tipo de reação dos mesmos.
Os
nazistas ocuparam rapidamente a Dinamarca, a Noruega e a Holanda. O
avanço nazista alcançou a França, ocupando Paris em 1940. O
primeiro-ministro francês, Marechal Pétain, assinou a rendição na
cidade de Vichy, embora a parte sul do país permanecesse resistindo
ás forças alemãs. Dominado o continente, Hitler dirigiu-se contra
a Inglaterra, iniciando um novo período da guerra. Contra essa nação
as coisas eram muito mais difíceis, pois se tratava de uma ilha e,
por via marítima, era quase impossível derrotar as forças
britânicas. A alternativa utilizada pelos alemães foi bombardear,
através dos seus caças, noite e dia, a Inglaterra sem trégua,
enquanto os ingleses respondiam como podiam.
Enquanto
os alemães travavam a batalha contra a Inglaterra, os Italianos
atacavam o norte africano, tentando tomar o canal de Suez, a fim
de romper as ligações da Inglaterra com suas colônias. Italianos e
alemães atacaram também a Grécia, a Bulgária, a Iugoslávia e
toda a região balcânica. Os historiadores costumam ironizar a
incompetência de Mussolini enquanto estrategista militar, pois o
mesmo não foi capaz de conquistar a Grécia sozinho, necessitando de
forte apoio das forças alemães para ocupar aquele pequeno e
impotente país.
Com
a intenção de obter minérios, cereais e petróleo, fundamentais
aos seus planos bélicos, em junho de 1941, Hitler, traindo o pacto
de não agressão de 1939 e sem declaração de guerra, marchou para
a União Soviética. Em um ataque surpresa, foram acionados canhões
alemães nas fronteiras efetuando ataques aéreos sobre os aeroportos
soviéticos próximos, enquanto era aberto caminho, por terra, para o
exército alemão marchar rumo a Moscou. Essa intervenção bélica
ficou conhecida como Operação Barbarossa.
Cumprindo
com as determinações da central de inteligência, os generais
nazistas contaram com uma rápida vitória sobre os soviéticos, pois
havia um exército alemão de três milhões de soldados, na
fronteira russa, pronto para a conquista.
De
fato, inicialmente o exército soviético pouco pôde fazer para
deter o avanço dos alemães. Mas Hitler não contava com o grande
número de soldados russos, nem avaliaria o seu vasto território e a
resistência das tropas e da população. O sucesso dos primeiros
meses levou os nazistas até os subúrbios de Moscou, a capital
soviética, mas no final de 1941, os alemães passaram a experimentar
duras e decisivas derrotas.
Um
fato curioso:
Um
aspecto importante e singular dessa operação é que Hitler havia
declarado para os seus generais que, diferentemente das outras
anexações, em território soviético eles não poupassem vidas, em
claro sinal do desprezo e raiva que o Führer possuía em relação
aos comunistas.
Desde
março de 1941, os Estados Unidos haviam assumido posição contrária
ao Eixo, ajudando materialmente a Inglaterra e a França. Em agosto,
o presidente morte-americano Franklin Roosevelt assinou com o
primeiro-ministro inglês Churchill a Carta do Atlântico, selando a
solidariedade entre Inglaterra e Estados Unidos. Essa declaração,
baseada em princípios liberais e a liberdade de navegação em águas
internacionais, o respeito à autonomia e às fronteiras políticas,
contrariava a política expansionista nazifascista.
No
Pacífico, desde a invasão da China, a tensão entre Estados Unidos
e Japão crescia, aumentando fortemente após o ataque japonês sobre
a Indochina. Em dezembro de 1941, os japoneses, ambicionando a plena
hegemonia no Pacífico oriental e dando seguimento ao seu
expansionismo, atacaram Pearl Harbor, a maior base naval
norte-americana no Pacífico sul, precipitando a entrada dos Estados
Unidos na Guerra.
O
ataque japonês a Pearl Harbor aconteceu na manhã de sete de
dezembro, enquanto diplomatas japoneses e norte-americanos discutiam
em Washington a retirada do Japão da Indochina e a normalização de
suas relações no Pacífico. O ataque destruiu grande parte da frota
americana e deu aos japoneses a posição bélica ofensiva, enquanto
os norte-americanos buscavam recompor suas forças. Mesmo assim, no
dia seguinte, os Estados Unidos declararam guerra ao Japão,
oficializando o confronto no Pacífico.
Até
o início de 1942, Alemanha, Itália e Japão dominaram a guerra,
executando uma contínua expansão e conquistando gigantescas e
estratégicas regiões da Europa, África e Ásia. Mas, a partir de
então, iniciou-se a derrocada do Eixo, pondo fim á expansão
totalitária. Nesse particular é importante salientar o papel
preponderante exercido pelo exército vermelho soviético, o maior
responsável pela derrota das forças nazistas. Além de terem sido
os grandes responsáveis pela derrota dos alemães, os soviéticos
foram os mais sacrificados, pois terminado a guerra, as perdas
humanas contabilizadas naquele país superaram a de todos os demais
envolvidos no conflito.
O
Fim da guerra
Na
União Soviética, durante a batalha de Stalingrado, Hitler tentava
vencer definitivamente os soviéticos. Mas, ao fim de alguns meses de
acirrada luta, a ofensiva nazista foi completamente destruída,
neutralizando o poderio alemão no leste.
No
Oriente, os japoneses foram batidos nas batalhas do mar de Coral e de
Midway, a primeira grande derrota da marinha japonesa. Enquanto isso,
os Estados Unidos restabeleciam seu equilíbrio bélico e assumiam a
ofensiva.
Ao
mesmo tempo, os Aliados iniciaram o avanço no norte da África, e em
1943, um exército anglo-americano derrotou, no Egito, os alemães e
italianos na batalha de El Alamein. Essa vitória deu aos Aliados
controle do Mediterrâneo e possibilitou o desembarque na Itália,
abrindo uma frente de avanço sobre a Alemanha. Em setembro de 1943,
depois de o rei italiano demitir o Primeiro Ministro Mussolini, a
Itália se rendeu e, no mês seguinte declarou guerra a Alemanha. A
luta na península contra os alemães e fascistas locais duraria até
o final da guerra.
Uma
frente aliada desembarcou na Normandia, norte da França, no dia 6 de
junho de 1944, o chamado "Dia D". A operação tinha por
objetivo eliminar as forças alemãs estacionadas no norte da Europa,
denominadas Muralha do Atlântico, avançar pelo continente e apertar
o cerco contra o Terceiro Reich.
Pouco
depois, em agosto de 1944, Paris era libertada. Enquanto isso, os
aliados conduziam seus exércitos na direção da Alemanha, o centro
do Eixo. O Exército Vermelho soviético foi o primeiro a chegar a
Berlim, dando o golpe final sobre o Terceiro Reich.
Poucos
dias antes da rendição final (8 de maio), Mussolini e Hitler
morreram em circunstâncias dramáticas. Mussolini, depois de caçado
por populares, foi preso, fuzilado e pendurado em uma Praça de Milão
em 28 de abril. Hitler cometeu suicídio com um tiro de pistola na
cabeça, em 30 de abril.
No
oriente, a luta continuou por mais de dois meses. Os Estados Unidos
avançaram progressivamente, cercando o Japão. Em 6 de agosto de
1945, já dominando o conflito no Pacífico, mas sob o pretexto de
abreviar a guerra, os norte-americanos utilizaram o seu mais novo e
poderoso recurso bélico:lançaram uma bomba atômica sobre a cidade
de Hiroshima e, três dias depois, outra sobre Nagasáqui. A rendição
incondicional do Japão foi obtida em 19 de agosto, oficializando o
final da guerra.
Os
acordos de paz
O
primeiro acordo de paz ocorreu no início da ofensiva aliada e da
derrocada do Eixo. Foi a Conferência de Teerã, no Irã, em novembro
de 1943, que reuniu pela primeira vez os três grandes estadistas da
época: Stalin, Churchill e Roosevelt. Na Conferência, as forças
anglo-americanas interviriam na França, completando o cerco de
pressão à Alemanha, juntamente com o leste russo, o que se
concretizou com o desembarque dos aliados na Normandia.
Na
conferência, decidiu-se também sobre a divisão da Alemanha e as
fronteiras da Polônia ao chegar o fim da guerra, além de formularem
propostas de paz com a colaboração de todas as nações. Estados
Unidos e Inglaterra reconheceram a fronteira soviética no Ocidente,
com a anexação da Lituânia, da Letônia, da Estônia e do leste da
polônia. Em fevereiro de 1945, com a guerra preste a acabar na
Europa e o Japão recuando, deu-se a Conferência de Yalta, às
margens do mar Negro, na Criméia russa.
Stalin,
Churchill e Roosevelt discutiram a criação da Organização das
Nações Unidas (ONU), em bases diferentes das da Liga das Nações,
e definiram a partilha mundial, deixando para a União Soviética o
predomínio sobre a Europa oriental, incorporando os territórios
alemães a leste e definindo a participação da URSS na rendição
do Japão, com a divisão da Coréia em áreas de influência
soviética e norte-americana. Separava-se o mundo capitalista do
socialista. Era o começo de uma era que ficaria marcada como
Guerra-fria.
A
Guerra Fria
Nos
quadros da geopolítica internacional, a oposição entre os blocos
socialista e capitalista foi levada ao extremo após 1945, promovendo
uma bipolarização política, ideológica e militar que afetou todo
o mundo contemporâneo.
Dito
de uma maneira mais objetiva, o mundo foi literalmente dividido ao
meio e as duas superpotências daquela época reinaram soberanamente
nos cinco continentes do globo. Cada potência buscou, nesse período,
estabelecer as suas zonas de influência e impor uma política
imperialista, submetendo milhões de pessoas à sua órbita de
controle, muitas vezes por meio da força pura e simples.
Os
conflitos ocorridos durante a Guerra Fria ocorreram em vários pontos
do mundo, deixando claro que as relações internacionais estavam,
naquele momento, submetidas aos interesses norte-americanos e
soviéticos. Sem constituir um período homogêneo, devido à
distensão entre os polos rivais, a Guerra Fria durou até o fim da
União Soviética, em 1991. No curso dos seus quase cinquenta anos,
as potências investiram no aperfeiçoamento de armas de destruição
em massa, construíram bombas nucleares capazes de destruir o mundo
mais de cinquenta vezes, planejaram habitar outros planetas,
conheceram a Lua e promoveram a expansão da miséria por meio da
política imperialista.
No
dia 12 de março de 1947, o presidente norte-americano, Harry Truman,
ao discursar no Congresso Nacional, afirmou que os Estados Unidos se
posicionariam a favor das nações livres que desejassem resistir às
tentativas da dominação dos comunistas. A meta de Truman era
combater a expansão do comunismo e a influência soviética,
oficializando naquele instante a Guerra Fria. No mesmo ano, o
secretário de Estado, George Marshall, reforçou a posição
norte-americana ao lançar o Plano Marshall, um programa de
investimentos e de recuperação econômica para os países europeus
em crise após a Segunda Guerra Mundial. Em resposta, a União
Soviética criou o Kominform, organismo encarregado de promover a
união dos principais partidos comunistas europeus, além de afastar
da supremacia norte-americana os países sob sua influência, gerando
o bloco que ficou conhecido como a “cortina de ferro”.
Complementando a reação soviética, em 1949 foi criado o Comecon,
uma réplica do Plano Marshall para os países socialistas, buscando
sua integração e ajuda econômico.
Ao
lado da disputa pela hegemonia econômica mundial, os blocos opostos
corriam para se armar contra o inimigo. A União Soviética adquiriu
a bomba atômica em 1949 e a bomba de hidrogênio em 1953. Não se
pode afirmar se a União Soviética e os Estados Unidos pretendiam
usar armas nucleares contra outros países: os EUA na Coréia em
1951(Guerra da Coréia- 1950 a 1953), e, para salvar os franceses, no
Vietnã em 1954; a URSS contra a China em 1969. As armas nucleares
não foram usadas, mas ambos usaram a ameaça nuclear, quase com
certeza sem a intenção de cumpri-la, em algumas ocasiões: os
Estados Unidos buscaram acelerar as negociações de paz na Coréia e
no Vietnã, e a União Soviética para forçar a Grã-Bretanha e a
França retirar-se de Suez em 1956.
Na
prática nunca houve uma ameaça de uma guerra total nuclear. Salvo
nos episódios acima narrados e durante a crise dos mísseis
instalados em Cuba e apontados para os Estados Unidos, nunca houve de
fato uma concreta ameaça de explosão nuclear. Isso se explica,
dentre outras razões, pelo fato de Estados Unidos e a União
Soviética sempre acordarem secretamente nos processos de intervenção
em suas áreas de influência; ou seja, sempre que uma das potências
invadia um território, era respaldado pela outra potência. É
lógico que algumas exceções existiram como foi o caso de Cuba, do
Afeganistão, da Coréia e do Vietnã. Mas esses acontecimentos
jamais se constituíram em motivos suficientemente fortes para a
eclosão de um cataclisma nuclear.
Diante
das novas forças da Alemanha Ocidental, devido aos investimentos do
Plano Marshall e à unificação administrativa, a União Soviética
revidou, em 1948, impondo o bloqueio terrestre a cidade de Berlim
Socialista. O ocidente capitalista respondeu com o abastecimento da
Berlim capitalista por via aérea, acirrando os ânimos e criando
grande tensão internacional. No ano seguinte foram instituídas as
duas Alemanhas: a ocidental- República Federal da Alemanha, e a
oriental- República Democrática Alemã.
Em
agosto de 1961, foi construído o Muro de Berlim, que separou,
concretamente, os dois lados da cidade e se tornou símbolo da
separação alemã e da Guerra Fria. A derrubada do muro em 1989, em
meio ao colapso do socialismo real, por sua vez, foi o marco do final
do período da Guerra Fria. À sua queda, em seguida, deu-se na
unificação da Alemanha. Outros fatos somaram-se a essa crescente
tensão internacional, como a criação, em abril de 1949, da
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), uma aliança
político-militar dos países ocidentais, composta inicialmente por
Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Bélgica, Países
Baixos, Luxemburgo, Dinamarca, Noruega, Finlândia, Portugal e
Itália.
Posteriormente
ingressaram Grécia, Turquia e Alemanha Ocidental, opondo toda a
Europa ocidental à União Soviética.
O
armamentismo e a tensão crescente entre os blocos capitalistas e
socialistas que se estenderam até 1953 e que caracterizavam a Guerra
Fria sofreram uma reversão parcial com a morte do ditador Joseph
Stálin, com a política do então presidente norte-americano
Eisenhower e com a paz de Pan Munjon, na Coréia. Instaurou-se então
um período de aproximação entre a União Soviética e os Estados
Unidos, conhecido como Coexistência Pacífica. Esse período
iniciou-se com uma série de reuniões de cúpula entre os dirigentes
das duas superpotências, para limitação de armamentos. Até os
anos 60, buscou-se diminuir os atritos da Guerra Fria, o monolitismo
dos blocos, o alinhamento férreo à União soviética ou aos Estados
Unidos, possibilitando uma multipolarização internacional.
Em
meio à Coexistência Pacífica emergiram vários focos de tensão,
colocando em risco a aproximação entre norte-americanos e
soviéticos e até mesmo a paz mundial. Dentre tais episódios
podemos citar:
⇒ A guerra do Vietnã;
⇒ O processo de descolonização africana;
⇒ A Revolução Cubana em 1959;
⇒ A invasão da Hungria pelos soviéticos;
⇒ O rompimento entre a União Soviética e a China.
⇒ A guerra do Vietnã;
⇒ O processo de descolonização africana;
⇒ A Revolução Cubana em 1959;
⇒ A invasão da Hungria pelos soviéticos;
⇒ O rompimento entre a União Soviética e a China.
A
Coexistência pacífica não pôs, entretanto, fim às rivalidades
capitalismo-socialismo, mas abriram canais de entendimento, algumas
vezes eficazes, em outras se mostraram ineficientes.
Após
as diversas crises do final dos anos 60 que atingiram as relações
entre União Soviética e Estados Unidos, o início dos anos 70 foi
impulsionado por uma nova reaproximação entre os dois países. A
partir de 1972, foram assinados tratados que limitavam o poder
bélico, até então crescentes, das duas superpotências. Esses
trados receberam o nome de Salt (Strategic Arms Limitation TreaTy -
Tratado sobre Limitação de Armas Estratégicas). O primeiro Salt
limitou o sistema de mísseis antibalísticos dos Estados Unidos e da
União Soviética. Em 1979, foi assinado o Salt-2, no qual
estabeleceu uma redução dos mísseis e bombardeios estratégicos.
O
efeito da Guerra Fria foi mais importante na política internacional
do continente europeu que em sua política interna. Provocou a
criação da “Comunidade Europeia”, que inicialmente era formada
por seis Estados: França, República Federal da Alemanha, Itália,
Países Baixos, Bélgica e Luxemburgo. Enquanto na Europa a
diplomacia dos países avançava nas negociações para a formação
de um bloco econômico composto por vários países, na Rússia, em
agosto de 1991, membros da burocracia conservadora afastaram do
poder, por meio de um golpe de Estado, o presidente soviético
Gorbatchev. Os golpistas visavam impedir as mudanças propostas no
quadro político-econômico em curso na a União Soviética, as quais
ameaçavam o colapso econômico e uma guerra civil. Bóris Yeltsin,
presidente da principal república soviética, a Rússia, e líder
dos ultra-perestroikistas, convocou uma greve geral e obteve o apoio
de milhares de civis e militares que, estabelecidos em frente ao
Parlamento Russo, derrotaram os golpistas e reafirmaram a
legitimidade do governo Gorbachev.
Tal
foi o prestigio obtido por Yeltsin pela vitória contra o golpe, que
ele se transformou no principal líder político soviético,
sobrepondo-se mesmo à Gorbatchev que, ao voltar ao poder, se viu
obrigado a renunciar ao cargo de secretário-geral do Partido
Comunista da União Soviética e dissolver o partido, então acusado
de ligações com os golpistas, ficando apenas com o enfraquecido
cargo de presidente da União Soviética.
O
golpe final contra Gorbatchev deu-se em dezembro de 1991, quando a
Rússia de Yeltsin, juntamente com a Ucrânia e a Bielo-Rússia
assinaram o Acordo de Minsk (capital de Bielarus), proclamando o fim
da União Soviética e a criação da Comunidade de Estados
Independentes (CEI) que, pouco depois, obteve a adesão de outras
ex-repúblicas da União Soviética. Dias depois, em 25 de dezembro,
do mesmo ano, Gorbatchev renunciava ao cargo de presidente da União
das Repúblicas Socialista Soviéticas, país que, então, já não
existia. Enquanto a Europa buscava o fortalecimento político e
econômico por meio da criação de um bloco sólido, a antiga URSS
se fragmentava e dava origem a uma série de Repúblicas
independentes, muitas das quais eram resultados dos sentimentos e das
identidades étnicas e religiosas, as quais foram violentamente
silenciadas, por décadas, pela repressão do imperialismo russo
Curiosidade:
Após
a queda do Império Soviético uma sucessão de crises de
abastecimento, desestruturação do estado e a completa falta de
organização no sistema de abastecimento levaram ao aprofundamento
do estado de miséria e desespero de milhares de famílias que se
amontoavam nas filas dos armazéns na busca de leite, pão e outros
víveres necessários para a sua sobrevivência.
Após
o colapso da União Soviética em 1991, conflitos eclodiram em
diversas partes do antigo império. Dentre as razões mais
complicadas foram as disputas em torno de quem ficaria com os
armamentos nucleares espalhados por todo o território soviético.
Como a antiga União Soviética havia espalhado bases para lançamento
de mísseis de médio e longo alcance nessas regiões, além de
tornar diversas Repúblicas em portos para atracamento de navios e
submarinos.
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